quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Reciclagem emocional

     Já parou pra pensar em quanto lixo nós juntamos por dia? E não estou falando de lixo material, porque este já é sabido que estamos extrapolando todos os limites, certo? Quero falar sobre aquele lixo emocional que mantemos guardados, vai se acumulando e causando alguns estragos por aí.
     
    Como são apressados nossos dias, um corre corre danado, estudo, trabalho, família, filhos, academia, cuidar de casa, eventos sociais, preocupação com alimentação saudável, em estar bem informado, estar bem vestido, cuidar da beleza, dentre outras. Quanta coisa hein! Piloto automático ativado! E então, qual é o momento do descanso, de curtir a família, a natureza, a própria companhia, os amigos e renovar as energias?
     
     Tantas tarefas, responsabilidades, compromissos e conflitos na rotina, sem um pit stop desgastam a saúde mental e física de qualquer um mesmo. São capazes de desgastar inclusive as relações do dia a dia, pois funcionando no piloto automático nem percebemos nossas reações diante de situações problema, não conseguimos concluir soluções eficazes e muito menos nos manter disponíveis de forma saudável para as pessoas ao redor.
     
     Diante dessas condições, como passamos os dias? Impacientes no trânsito, nas filas dos bancos, com o atraso de algum cliente, com os filhos, com marido/mulher e então está instaurado o famoso estado de estresse.
     São nesses momentos de estresse que temos atitudes impulsivas, das quais podemos nos arrepender mais tarde, quando tivermos a oportunidade de repensar no que aconteceu. Esses atos impulsivos são a descarga que damos no nosso lixo emocional. Afinal o que é isso? Como identificá-lo? Pra onde ele vai? O que fazer com ele então?
     
     O lixo emocional são aqueles sentimentos, sensações, emoções, palavras não ditas, conflitos mal resolvidos, que evitamos mencionar, como também buscar solução. Podem ser de ontem, mas também há aqueles de meses ou anos atrás. Mesmo que não desejamos nos conectar com eles, estão presentes no nosso dia a dia, debaixo do tapete dos nossos pensamentos e quando a gente menos espera, com o menor sopro de vento, a poeira sobe e nos tampa a visão.
     
     O que naturalmente fazemos é ignorar essas sensações incômodas como se nunca tivessem existido. Então a partir de mínimos estímulos ou contrariedades 'jogamos para o universo', no ambiente familiar, de trabalho, social, amizades, descarregando nas pessoas que estão próximas a nós, perdendo a paciência por pouca coisa, sem ter consciência que estamos fazendo isso.
     
     Para evitar os possíveis estragos causados por essa negligência com nossos problemas, podemos mudar algumas atitudes. Como por exemplo, observar nossas reações diante de situações difíceis, estando dispostos a resignificar o que não está adequado com a ecologia do nosso funcionamento.
     Para fazer isso, é bom que tenhamos consciência de que nossas questões são nossas e ninguém mais dará conta delas e nem têm essa responsabilidade, logo, não terá quem as recolha. Sendo assim, simplesmente ignorar o que não queremos ver, não fará com que desapareça ou se transforme, e estaremos contaminando nosso ambiente e nossas relações, pois como já foi dito, esse lixo de emoções continuará presente na nossa vida, causando desconfortos.
     
     Há quem busque descarregar seu lixo semanalmente em finais de semana, ou mensalmente, numa folga do trabalho, ou até semestralmente naquelas férias escolares e viagens de família. Acontece que se o lixo foi acumulado de conflitos em alguma relação pessoal por diferença de opiniões ou mal entendidos é preciso uma conversa/atitude adulta, com respeito e de preferência com a pessoa envolvida, para que a relação não tenha essa figurinha de constrangimento guardado. Infelizmente algumas pessoas carregam o saquinho de lixo por muitos anos e insistem em ignorá-lo, convivendo com o incômodo que possa causar.

     Aquele lixo material do qual falei no início, está constantemente sendo reaproveitado, certo? Há grandes transformações dos nossos restos materiais para produção de variadas coisas a serem reutilizadas, justamente para não apenas liberá-los no ambiente. São produzidos papel reciclado, adubo, chinelos de pneus, artesanatos e uma grande variedade de outros materiais.

     Sendo assim, como dizer que nosso lixo emocional também não pode ser aproveitado? Podemos também utilizar de um processador para resignificar e fazer daquele incômodo algo ecológico para nós.      O primeiro passo é reconhecer que estamos carregando um saquinho (talvez pesado); em seguida, se permitir olhar para ele de uma perspectiva diferente, como ainda não havíamos feito; importante também é ser grato pela situação que trouxe aquelas questões, pois a partir delas houve um aprendizado mesmo que seja do que não queremos repetir no futuro; e então o colocar em um lugar adequado, pois faz parte da nossa estória.

    Um modo de buscar esse processamento de emoções, sentimentos, sensações, experiências, é a partir do processo psicoterapêutico. Neste, o Psicólogo terá como função, apresentar novos pontos de vista, orientar e acompanhar o caminho a ser percorrido pelo sujeito em busca de um equilíbrio emocional, que permita a ele, uma vida mais saudável, de protagonismo e autonomia.
     
     E então, vamos ser protagonistas das nossas vidas ou fantoches dos nossos problemas? 


(Texto de 06/01/2015)

Juliana de Oliveira e Silva
CRP 04 / 40353

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