sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Acompanhamento Terapêutico, o que é isso? (2ª Parte)

Faça da cidade seu consultório.
     A partir do texto anterior, podemos falar que o profissional do Acompanhamento Terapêutico tem a oportunidade de estar com o acompanhado no seu dia a dia e intervir a partir de situações vividas pela dupla. 
     A intenção é auxiliar, orientar o desenvolvimento da autonomia dessas pessoas, possibilitar a elas a expressão, experimentação, sem que o acompanhante faça julgamentos e repreensões no seu modo de funcionar. Para que o trabalho aconteça de forma satisfatória e eficaz, é necessário que haja um bom vínculo entre a dupla, construído de forma processual e baseado em confiança.

     A Clínica do AT tem a sua ação chamada flutuante, está presente no ambiente do acompanhando e sendo assim, presencia situações com várias pessoas do seu convívio, família, vizinhos, outros profissionais envolvidos no cuidado deste. É o que a gente chama de Rede de Apoio, que pode ser formada pelas instituições que ele frequenta, como também as pessoas da família, amigos, colegas de trabalho, vizinhos. Buscando dessa forma construir ou recuperar habilidades do sujeito acompanhado em estar no convívio da sociedade mais naturalmente e assim como na liderança da sua vida.


     Essas pessoas vão ser importantes no processo terapêutico do acompanhado, pois são eles que estão mais presentes no dia a dia dele e tanto podem possibilitar o contínuo desenvolvimento do trabalho do AT, como alimentar as situações de conflito já vividas. Por essas relações terem essas duas possibilidades de acontecer, é importante a presença do AT fazendo intervenções e orientações sempre que necessário.
     A prática do Acompanhamento Terapêutico ainda é pouco divulgada, mas está conquistando um bom espaço entre os profissionais da Saúde Mental. É um trabalho que funciona muito bem em complementaridade às outras formas de cuidado. É uma relação de fronteira, ou seja, está em contato com várias áreas do conhecimento.

     O Acompanhamento Terapêutico então pode ser referenciado de forma simples como um dispositivo de atendimento de saúde mental que por meio da disponibilidade de estar com o outro, despido dos seus pré conceitos e julgamentos, acompanha seu caminho pela vida, buscando proporcionar ampliação dos espaços e desenvolver autonomia do sujeito acompanhado.

     Pensando nesse deslocamento do AT e seu acompanhado pela cidade, diga, como está sua movimentação e ocupação desses espaços? Como você se coloca no espaço urbano público? Como você percebe o ambiente, as pessoas, o caminho que você faz todos os dias? 
     Estamos tão acomodados na nossa rotina automatizada que passamos pelos mesmos lugares sem observá-los com atenção e podemos não reparar numa árvore que floriu, ou que foi retirada, uma fachada que mudou de cor, uma pintura em algum muro, a troca do outdoor, ou até pensar em novos caminhos para fazer que também chegam ao nosso local de trabalho.


     Sugestão para os próximos dias, observe por onde você anda, repare nos detalhes da calçada, ou nas placas de indicação, nos canteiros das ruas, nas árvores e flores do caminho, nas cores das casas, onde a pintura do asfalto está nova, ou já está apagada, enfim, desligue o automático e ligue o manual, serão grandes as chances de você ser surpreendido. Amplie também sua ocupação no espaço público urbano, combinado?  


(Texto de 26/09/2015)

Juliana de Oliveira e Silva
Psicóloga CRP 04/40353

     


segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Acompanhamento Terapêutico, o que é isso? (1ª Parte)

     Quero falar um pouco sobre a prática que está descrita no meu perfil de atendimento, o Acompanhamento Terapêutico, ou AT. Para não ficar enorme o texto, vou dividir em duas partes, ok?
     Quando as pessoas me perguntam, "O que você faz?", conto que sou Psicóloga Clínica e Acompanhante Terapêutica, "mas o que é isso?".


     Então, os atendimentos acontecem fora do consultório, na casa do cliente, na vizinhança, nos locais que ele frequenta, praças, instituições, enfim, acompanho ele em algum período do seu dia, com alguma frequência na semana. "Ah, entendi, é um atendimento domiciliar...", "Não! É um atendimento ambulante, um modelo de clínica que vamos chamar de Clínica Ampliada".     

      Para você, o que é acompanhar? Quando acompanhar se torna terapêutico? Segundo o dicionário Michaelis, acompanhar é fazer companhia a alguma pessoa, estar junto, ir na mesma direção, conduzir, seguir com atenção.

     Esse é exatamente o lugar do AT, ilustrado muito bem por Kleber Barreto, no seu livro que usa a relação dos personagens Dom Quixote e seu fiel escudeiro Sancho Pança, em várias das suas aventuras. 
     A proposta do AT é estar com o sujeito no seu percurso pela vida, orientando em algumas situações, sendo apoio em outras, ou mesmo apenas estar lá, fisicamente e emocionalmente, pode ser uma intervenção importante.
     
     O AT teve início na Argentina, no final da década de 60 e ainda naquela época foi denominado "amigo qualificado", com os ideais da antipsiquiatria e antimanicomiais que vieram da Europa, o AT teve seu começo em Porto Alegre, Rio e São Paulo.

     A partir de então os pacientes psiquiátricos demandaram uma expansão do campo de atuação das abordagens terapêuticas a partir do fim do Regime Ditatorial no Brasil. Com isso, foi permitido que essa atuação também estivesse presente no espaço público e assim a prática do AT começa a tomar forma, se desfazendo aos poucos dos settings tradicionais, até então conhecidos nas intervenções terapêuticas. Como também deixando de ser restritos aos casos crônicos, e se abrindo para diversos transtornos e também àqueles que por algum motivo perderam a possibilidade de circulação e convivência natural nos espaços públicos urbanos.

     O AT tem a intenção de levar pra rua, ao convívio das pessoas, aquele sujeito que por algum motivo está sendo excluído da sociedade. Fazer das ruas novos modos de clínica, desfazer a padronização do pensamento e utilização dos espaços.

     O AT acontece no cotidiano, nos pequenos momentos do dia a dia, o setting é ambulante. 


(Texto de 26/09/2015)

Juliana de Oliveira e Silva
Psicóloga 04/40353